01 maio, 2009

Não é sábado, mas parece.


Eu cruzo o campus quase vazio e esse vazio enche meu peito. Não é sábado, mas parece. Por um passo ou dois, sinto o que devem sentir os que não sentem nada. E essa paz, ainda que logo tumultuada por pensamentos diversos - preciso trocar a lâmpada da cozinha. tenho que acabar aquele artigo. o que vou almoçar ? - me faz levitar, por um passo ou dois.

Nos fones, Billy Collins recita um poema. Algo sobre o primeiro homem que sonhou e o que deve ter se passado pela sua cabeça primitiva ao despertar, ainda sem entender o que tinha acontecido, lutando para preservar aquela memória esvanecente. Lembro de um outro poema seu, meu preferido, Marginalia, sobre as notas que fazemos nas margens dos livros. Chateado com meus desvaneios, Collins recita algo sobre os prazeres do cigarro. "Ok, você tem minha atenção", digo, levemente contrariado, e mentalmente rabisco em sua voz um comentário qualquer sobre o efeito das suas frases sem rimas em um ex-fumante, numa hora daquelas de um dia que não é sábado, mas parece.

O campus continua vazio. Chego à minha sala. Já não sinto o que devem sentir os que não sentem nada. E enquanto penso na lâmpada da cozinha, no almoço e no artigo, escrevo este texto. Sem entender o que aconteceu, apenas tentando, na minha mente primitiva, preservar aquela memória, eternizar aquele passo ou dois.

3 comentários:

Glenda N. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glenda N. disse...

Mazá.
Assim que li o que escreveu, sobre atravessar o campus vazio e que isso parecia sábado, logo pensei: Será que todos os campus são iguais ao sábado? Hehehe.Incrível como no sábado eles parecem abandonados e monótonos.

Alias senhor Alys, olha na comunidade do Verissimo! Abrimos o novo Projeto literário.

Bjs.

A. disse...

Oi Glenda!!!

Ando mais ocupado que vendedor de bacalhau na semana santa, mas vou ver se entro lá sim... Beijos! Ah, e obrigado pelo comentário... cá estou aqui, no campus, em um sábado! :-)

Alysson