21 maio, 2009

Tabacaria


Leio e releio tabacaria, e um verso em particular, me chama a atenção:

"Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade."

Nunca, em mil leituras, havia me alongado nessa frase. Sempre parava antes, comovido com a tão crua constatação do desejo: "Não sou nada/ Nunca serei nada. /Não posso querer ser nada. /À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.", ou bem depois, confortado com a companhia que Pessoa me oferecia: "E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.".

Mas hoje, agora, mais que tudo, estou vencido. Não apenas como se soubesse a verdade, porque eu a sei. Mas sobretudo como se fosse incapaz de desistir, e seguisse fantasiando uma versão mentirosa - uma que seja - dessa verdade que dói.

E nada me resta além de escrever versos... e esperar que sorria o dono da Tabacaria. Ou que o Esteves, que eu nem conheço, esse Esteves sem metafísica, simplesmente atravesse essa rua cruzada constantemente por gente. Para nunca mais voltar.

.

Nenhum comentário: